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Conversas sobre saúde mental frequentemente criam uma falsa dicotomia entre clientes e profissionais. Muitos acreditam que profissionais de saúde mental não podem ter experiências pessoais com diagnósticos que também tratam, o que não reflete a realidade.
Sou Fisioterapeuta, trabalho com a Microfisioterapia, (técnica que identifica e trata no corpo a causa primária de sintomas físicos e emocionais) e tenho Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Meu diagnóstico veio em 2020, depois de anos identificando TDAH em meus clientes sem perceber que os traços “relacionáveis” que eu via neles eram, na verdade, um reflexo de algo que compartilhávamos.
O TDAH permeia minha vida diária, influenciando tanto minha prática profissional quanto o funcionamento do meu cérebro. Minha experiência clínica e pessoal me dá uma perspectiva única sobre o diagnóstico. Aqui estão sete aspectos importantes sobre o TDAH que eu gostaria que todos entendessem:
1. Se você conhece uma pessoa com TDAH, conhece uma pessoa com TDAH
Quando compartilho meu diagnóstico, frequentemente ouço comentários de descrença, como: “Você não parece uma criança com TDAH que conheço.” A diferença, claro, é que estou na casa dos 40 anos. Mesmo na infância, eu não parecia o que muitos esperam de alguém com TDAH: eu não era perturbadora em sala de aula, parecia prestar atenção aos professores e mantinha notas altas. O que ninguém percebia era o tempo que eu passava distraída ou sonhando acordada.
Cada pessoa com TDAH é única. Existem subtipos, como sintomas predominantemente desatentos, hiperativos-impulsivos ou combinados. Mesmo dentro desses subtipos, a manifestação varia. Por exemplo, há nove critérios para desatenção, e apenas cinco são necessários para o diagnóstico. Assim, duas pessoas podem ter o mesmo subtipo, compartilhar apenas um sintoma e ainda assim ambas serem diagnosticadas com TDAH.
2. Nem todo mundo tem “um pouco de TDAH”
Outro comentário comum é: “Todo mundo não tem um pouco de TDAH?” Quando compartilho minhas dificuldades com organização ou minha tendência a perder coisas, as pessoas muitas vezes minimizam, dizendo que isso é normal.
Estatísticas do Center for Disease Control mostram que apenas 6% a 16% das crianças atendem aos critérios diagnósticos para TDAH. Entre adultos, a prevalência é ainda menor, parcialmente devido à adaptação ao longo da vida e ao controle sobre o ambiente.
Para ser diagnosticado com TDAH, os sintomas devem causar prejuízos claros no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. Não é a mesma coisa que enfrentar desafios típicos do dia a dia. Se você se identifica com experiências relacionadas ao TDAH, considere buscar uma avaliação.
3. Não estamos tentando ser difíceis
Muitas pessoas com TDAH relatam serem chamadas de “preguiçosas” ou acusadas de “não se esforçarem o suficiente.” Essas mensagens podem ser internalizadas, criando uma crença prejudicial de que os desafios enfrentados são resultado de preguiça ou falta de esforço.
Os sintomas do TDAH interferem diretamente na capacidade de funcionar. O cérebro de alguém com TDAH opera de forma diferente, afetando percepções e comportamentos. Julgar essas diferenças como falta de esforço não resolve o problema, mas pode prejudicar a autoestima.
4. A disfunção executiva é um desafio constante
O funcionamento executivo envolve habilidades como regulação emocional, planejamento, organização e memória de trabalho. Embora todos enfrentem dificuldades nessas áreas ocasionalmente, para pessoas com TDAH, a disfunção executiva é intensa e frequente, dificultando tarefas cotidianas.
Pesquisas mostram que cérebros com TDAH não formam hábitos automáticos como os de pessoas neurotípicas. A falta de um estímulo de recompensa pode impedir que tarefas repetidas no passado se tornem automáticas. Estratégias como o “empilhamento de hábitos” podem ajudar.
5. Hiperfoco é real
Embora o termo “déficit de atenção” seja amplamente usado, muitas pessoas com TDAH também experimentam hiperfoco. Durante períodos de hiperfoco, a concentração em uma atividade pode ser tão intensa que outras necessidades, como comer ou dormir, são ignoradas.
Esse estado pode ser altamente produtivo, mas também desafiador. É como dirigir um carro esportivo em alta velocidade: poderoso, mas difícil de controlar.
6. Disforia sensível à rejeição (DSR)
Embora a DSR não seja reconhecida como um diagnóstico formal no DSM, ela é uma experiência comum para pessoas com TDAH. Trata-se de uma resposta emocional intensa à rejeição ou crítica, real ou percebida.
A DSR, combinada com dificuldade em regular emoções, pode levar a acusações de que a pessoa é “dramática” ou “causa cenas.” Isso ignora a intensidade com que algumas pessoas vivenciam essas emoções. Ser gentil e paciente faz a diferença.
7. O tratamento é pessoal e individualizado
Tenho a sorte de poder ser aberta sobre meu diagnóstico, graças à minha autonomia como profissional e ao suporte que recebo. No entanto, ainda enfrento estigma. Recentemente, fui acusada de ser uma “buscadora de drogas” por mencionar que tenho TDAH, mesmo sem mencionar medicamentos.
Cada pessoa com TDAH tem um plano de tratamento único, que pode ou não incluir medicamentos. Essas decisões são feitas em conjunto com a equipe de tratamento, e críticas externas são desnecessárias e prejudiciais.
Se alguém buscar sua opinião ou ideias, seja solidário, mas lembre-se de que você nunca entenderá o funcionamento cerebral de outra pessoa melhor do que ela mesma.
O TDAH é multifacetado, complexo e afeta profundamente a vida de quem o vivencia. Com mais empatia e compreensão, podemos criar um mundo que acolha essas diferenças com respeito e dignidade.
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